Em postagem nas redes sociais do Portal Serra do Brigadeiro, em 17 de fevereiro de 2022, sobre a descoberta de um dos menores sapos do mundo – ‘Brachycephalus darkside’, na Serra do Brigadeiro, uma polêmica foi reavivada através dos comentários do post. Moradores da região rural do Careço, em Ervália, comentaram que outra pessoa – Gilson Basílio, tinha descoberto (não oficialmente) o sapinho, antes dos pesquisadores, mas seu nome foi ocultado das divulgações sobre a pesquisa.
Para esclarecer o ocorrido, visto que o portal tem o compromisso de dar voz a todas as partes da história, entrevistei o biólogo e professor da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Renato Neves Feio, que orientou, na época, a mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal na UFV, Carla Silva Guimarães, durante a pesquisa de identificação e registro da nova espécie. Os estudos foram concluídos em 2016.
De acordo com o professor Renato Feio, o “sapinho pingo de ouro”, foi encontrado no Parque por sua equipe, em 2005, próximo ao Complexo Turístico do Cruzeiro, em Dom Viçoso (Ervália) “Em 2006, publicamos uma nota (anexo 01 no final da matéria) de seu registro, mas ainda com o nome de Brachycephalus ephippium, pois acreditávamos ser a mesma espécie que ocorre no Rio de Janeiro”.
Em 2012, a equipe de biólogos da UFV publicou um trabalho, onde caracterizou toda a fauna de anfíbios e répteis da Serra do Brigadeiro. Lá estava incluído o Brachycephalus ephippium (anexo 02 no final da matéria).
Feio relata que ao continuar os estudos sobre o sapinho, a equipe encontrou ele em outras regiões da Serra do Brigadeiro: em Monte Alverne (Fervedouro) e no Pico do Cruzeiro no Careço (Ervália).
“Com mais indivíduos em mãos, pudemos realizar mais estudos morfológicos, genéticos e outros aspectos de sua biologia, que nos levaram a conclusão de ser uma nova espécie, a qual batizamos de B. darkside, no artigo de 2017 (anexo 03 no final da matéria), em função de seus tecidos enegrecidos internamente. Neste artigo, fizemos um agradecimento formal ao sr. Francisco Inácio da Silva, morador do Careço e, na época, funcionário do PESB (Parque Estadual da Serra do Brigadeiro), que nos indicou locais onde poderíamos achar mais exemplares desta nova espécie. Nestes locais, conseguimos mais indivíduos para realizar o trabalho publicado”, detalha.
Antes do registro oficial pelos pesquisadores da nova espécie, o pequenino de pele laranjada já tinha sido encontrado pelo artesão Gilson Basílio, dono da marca Opus Breu, e seus amigos. “Tive o prazer de localizar uma família inteira dessa criaturinha, na Fazenda do Gongo, anos antes da “descoberta oficial”, no extremo sul do Brigadeiro. Dia especial!”, conta.
A propriedade onde ele foi avistado pelo grupo é de Lígia Bouzada, coordenadora de Turismo da Prefeitura de Ervália e responsável pelo Complexo Turístico do Pico do Cruzeiro.
Lígia conta que quando ficou sabendo da descoberta de Gilson, fez questão de contar para o professor e pesquisador Renato Feio, que orientou a pesquisa de descoberta oficial do anfíbio. “O Renato tinha um terreno aqui na região, por isso entrei em contato com ele. Mandei um funcionário meu levá-lo no local. Até tinha feito um vídeo que postei no Facebook, dia 22 de maio de 2017. Achei injusto que tenha ocultado o nome de quem descobriu realmente”, comenta, desapontada.
Mas, o professor da UFV, explica que na ocasião citada, a equipe não encontrou nenhum exemplar da espécie. “Assim, este fato específico não foi mencionado no respectivo trabalho, pois em nada acrescentou aos dados já existentes”, esclarece.
O pesquisador enfatiza ainda que o conhecimento da equipe sobre esta espécie na Serra do Brigadeiro é muito anterior ao trabalho de 2017, como dito no início da matéria. “Realizo pesquisas no Brigadeiro desde 1992, quando fui contratado na UFV, tendo descrito outras seis espécies novas de anfíbios para a Serra do Brigadeiro. Sem contar as parcerias com trabalhos de outros grupos animais como peixes, aves e mamíferos com outros pesquisadores da UFV”, conclui Renato Feio.
No ano em que foi registrado oficialmente a descoberta, o sapinho acabou famoso por receber um nome científico um tanto incomum no meio acadêmico.
A espécie foi nomeada como ‘Brachycephalus darkside’ em homenagem ao álbum “The Darkside of the moon”, lançado em 1973, pela banda britânica de rock Pink Floyd e menção a uma característica que diferencia o sapo de outras espécies semelhantes, que é a musculatura preta, principal diferença em relação ao Brachycephalus ephippium – “sapinho pingo de ouro”.
A expressão inglesa Dark Side significa Lado Negro.