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Deputado cria projeto de lei para alterar nome do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro

A intenção do PL é mudar o nome para Parque Estadual da Serra dos Puri, reconhecendo a ancestralidade e o protagonismo do povo Puri na região

O deputado estadual Whelton Pimentel de Freitas, mais conhecido como Leleco Pimentel (PT), criou um projeto de lei (PL) que pretende mudar o nome do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro para Parque Estadual Serra dos Puri, destacando o papel histórico e cultural do povo indígena “Puri” na região. O projeto, em fase de tramitação desde o dia 8 de agosto deste ano, está sendo analisado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

Willian Dias/ALMG | Leleco Pimentel (PT), criou um projeto de lei (PL) que pretende mudar o nome do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro para Parque Estadual Serra dos Puri

Como justificativa, o autor explica que o território em questão é fortemente marcado pela presença dos Puris e teve sua primeira denominação conhecida como “Serra dos Arrepiados”, referindo-se, na leitura do povo Puri, à forma pejorativa como seus antepassados foram tratados, considerando o “corte de cabelo” peculiar.

Ainda segundo a documentação, o deputado explica que estudiosos da cultura do território apontam o protagonismo do povo Puri em relação à conservação de plantas e costumes antigos, associando diretamente à preservação da biodiversidade regional que propiciou a proteção da área onde o Parque está localizado.

Para Whelton, reconhecer o protagonismo do povo Puri é condição para alcançar um novo patamar em um contexto de atenção e cuidados com a ‘Casa Comum’, visto que a educação ambiental verdadeira é aquela que resgata os valores dos povos que mantiveram o patrimônio natural brasileiro protegido.

Você sabe de onde veio o nome Serra do Brigadeiro?

Desde os primórdios do Estado de Minas Gerais, a coroa portuguesa buscou explorar os recursos e áreas naturais onde atualmente é a Zona da Mata Mineira, seja para descobrir novas rotas ou para captar ouro.

Até o início do Século XIX, a Serra havia se mantido intocada por questões naturais e políticas. Porém, tempos depois, colonizadores adentraram-se na região, provocando o desaparecimento dos povos indígenas existentes no local. O primeiro emissário do governo a inspecionar as divisas da Província de Minas Gerais, na mesma época, foi o brigadeiro Bacelar, que, extasiado com a beleza do lugar, rebatizou o território como Serra do Brigadeiro. Esse ato apagou a referência da presença indígena na região.

Principais impactos e percepções sobre a proposta da mudança

Rodinei Rochedo, indígena do povo Puri, professor, folclorista e contador de histórias, também conectado ao resgate da ancestralidade da região, acredita que essa mudança vai trazer uma retomada da história e da sensação de pertencimento a essa Serra: “Até então, ninguém nunca pesquisou ou teve a curiosidade de saber quem é esse brigadeiro e os Puris. Esse é um ponto de partida e retomada da nossa identidade cultural e ancestralidade.”

Já no campo do turismo, ele percebe que também é uma renovação, uma nova possibilidade de abordagem além do turismo ecológico, oferecendo uma maneira de explorar ainda mais o turismo cultural e histórico. Porém, ele observa: “Para que o turismo se desenvolva, precisamos muito mais do que uma mudança de nome. Precisamos de políticas públicas com projetos voltados ao desenvolvimento do turismo como negócio, cultura e ecologia. É um trabalho longo de conscientização a respeito da nossa história e da nossa ancestralidade”, reflete.

Arquivo pessoal | Rodinei Rochedo com as crianças indígenas na Aldeia Puri

Para Jonatas Mota, Gerente da empresa In Natura Ecoturismo e Aventuras, essa mudança é válida e deve ser levada em consideração: “Não faz muito sentido nomear uma importante área de conservação ambiental com o nome de uma patente militar, sendo que as histórias que nos contam do referido brigadeiro são de que ele dizimou boa parte da presença dos índios Puris e renomeou o local ao seu gosto”, explica.

Como profissional do turismo, ele se posiciona a favor da mudança, independentemente dos investimentos já utilizados para a divulgação da Serra do Brigadeiro. “Não me parece justo com os descendentes indígenas que moram ali atualmente.”

Ele destaca ainda que esta é uma mudança significativa que pode levar um tempo para que a região entenda. Mesmo tendo em vista a possível perda dos investimentos já realizados e com o trabalho de reconstrução que pode vir pela frente, ele deseja que isso traga boa sorte e respeito aos Puris.

Arquivo pessoal | Jonatas Mota, Gerente da empresa In Natura Ecoturismo e Aventuras

Embora as perspectivas sejam positivas, a presidente do Circuito Serra do Brigadeiro e gestora de cultura e turismo do município de Fervedouro, correspondente a 26% do território do Parque, Patrícia Laviola, se preocupa com a mudança do nome e as consequências que ele pode causar para a região. Em entrevista, ela destaca que desde a criação da unidade de conservação em 1996 houve investimentos significativos em torno do nome Parque Estadual Serra do Brigadeiro, envolvendo esforços de líderes políticos, culturais, ambientais e da própria comunidade. “Desde então, municípios, governo do estado e empreendedores do ramo turístico vêm buscando parcerias e estratégias para o desenvolvimento da atividade turística na região da unidade de conservação”, relata e ressalta ainda que o turismo é uma pasta recente na política nacional e que a mudança de nome pode desfavorecer os esforços realizados até o momento.

Ao expressar suas preocupações, Laviola aponta para a falta de consulta pública aos municípios envolvidos com o Parque, sendo eles Araponga, Divino, Ervália, Fervedouro, Miradouro, Muriaé, Pedra Bonita e Sericita: “Os municípios que têm território no Parque não foram consultados. Falo isso em nome do circuito que leva o mesmo nome, em nome do município de Fervedouro e dos outros municípios. Eu questionei aos meus colegas e aos demais secretários de turismo, e ninguém recebeu nenhuma pesquisa para que fosse levada à população e aos conselhos municipais de turismo. Então, eu entendo que é um projeto que já começa sem essa fundamentação e sem o respaldo dos principais interessados nessa denominação, que são os municípios e a população que vive no entorno do próprio Parque.”

No quesito infraestrutura de capacitação dos empreendedores e da mão de obra local, Patrícia observa que ainda existe muito trabalho pela frente, e por isso acredita que os esforços e os recursos públicos deveriam estar concentrados nos investimentos existentes, devido aos recursos já escassos – relata -, necessários para a divulgação e movimentação no turismo local através do marketing.

Para ilustrar a situação visualizada através desse ângulo, ela conta sobre a BR-482, via que liga a sede do município de Fervedouro ao município de Araponga. Nela, existem cerca de 42 km de chão batido com pavimentação por ensaibramento na maioria do percurso, possuindo pequenos trechos de calçamentos com blocos. Sobre isso, Laviola observa que durante esta estação existe maior incidência de chuvas na região e, por isso, o trânsito por essa rodovia, que dá acesso à unidade de conservação Parque Estadual Serra do Brigadeiro, se encontra prejudicado. “Penso que os esforços deveriam estar concentrados em sanar problemas estruturais, de infraestrutura básica que é o transporte de acesso à unidade de conservação como esses, ao invés de repensar uma questão de nomenclatura”. Patrícia acredita que os esforços teriam que ser redobrados para reiniciar o trabalho de marketing de divulgação e promoção deste destino, caso a alteração fosse aprovada.

Durante a entrevista, a presidente do Circuito relembrou o lançamento do primeiro trecho de 25 km da Trilha Brigadeiro-Caparaó, realizado no dia 21 de outubro. “Esse é um projeto que consiste em uma trilha de longo percurso, conhecida e registrada junto à Rede Brasileira de Trilhas, que já vem demandando a disponibilidade de recursos municipais de Fervedouro, Carangola e Espera Feliz, os três municípios por onde essa trilha de mais de 250 km está passando. Acredito que mexer agora com essa nomenclatura viria, inclusive, a prejudicar o andamento de um projeto como esse”, finalizou.

novembro 13, 2023
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