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Expressão de fé na Serra do Brigadeiro: A 'Troca de Santos' entre Nossa Senhora das Dores e Careço

Por Nicélio Barros

Em 15 de setembro de 2021, a comunidade de Serra das Dores, distrito de Serrania do Brigadeiro, Miradouro, demonstrou toda a sua fé e devoção a Nossa Senhora das Dores. Centenas de fiéis e devotos à Santa, vindos da região e de dezenas de municípios pertencentes ou não ao território da Serra do Brigadeiro, participaram das festividades. A comunidade local se mobilizou, apesar das dificuldades impostas. Os padres Silas Geraldo e Adílson Nery, da Paróquia de Santa Rita de Cássia (Miradouro) celebraram a missa, envoltos em um ambiente de fé, emoção e acolhimento. Houve uma procissão, logo depois a celebração e, em seguida, a refeição compartilhada.

As festividades, contudo, ainda não puderam contar com o que há de mais tradicional nele: a travessia da “Troca de Santos”, que, possivelmente, voltará a ocorrer em 2022, a depender das circunstâncias do momento. Já há quatro anos não ocorre.

Mas, afinal de contas, como e quando surge uma das expressões de fé mais tradicionais no território da Serra do Brigadeiro? Tudo começa na década de 1930 na comunidade do Careço, município de Ervália.

Original do distrito do Careço, em Ervália, a imagem de roca de Nossa Senhora das Dores é um exemplar do século XVIII. Levada à comunidade de Serra das Dores, Serrania, na década de 1930, após um padre expurga-la da igreja – por ser “muito feia”, segundo relatos orais – a imagem permaneceu guardada na casa de Lino Silva, até que a comunidade conseguisse angariar os recursos necessários para a construção de uma capela para abrigar a imagem da Santa. Apesar do expurgo, a comunidade do Careço seguiu devota a Nossa Senhora das Dores e passou a participar de celebrações e adorações na nova capela.

Segundo consta no Inventário do Patrimônio Cultural (Miradouro: 2019, p. 59),

A população do Careço, também devota à Santa e em conjunto com a população de Serrania, lotam as festividades de comemoração do dia de Nossa Senhora das Dores, em 15 de setembro. Além disso, em conjunto, as duas comunidades promovem a “troca de santos”, em que a Imagem de Nossa Senhora das Dores regressa por um curto período de tempo para o Careço e a imagem de Nosso Senhor dos Passos permanece pelo mesmo período em Serrania. A troca é motivada por longos períodos de seca e, segundo relatos, antes da troca ser concluída, a chuva cai. Por este motivo, a Imagem ficou conhecida na região como a “Santa que faz chover”.

Tanto a devoção a Nossa Senhora das Dores quanto a sua imagem de roca são patrimônios culturais protegidos por inventário pelo município de Miradouro.

Ao longo do tempo, entretanto, a imagem sofreu intervenções que buscavam suavizar sua aparência, intervindo no seu aspecto, formato e estrutura. A última intervenção na imagem, feita há três anos, fez ampliar sobremaneira o seu peso. Associado a isso, o trecho miradourense da travessia – trata-se de uma estrade de serventia – que está nos limites da UC-PESB (Unidade de Conservação – Parque Estadual da Serra do Brigadeiro), carece de reformas para o trânsito adequado de pessoas e veículos. Estes dois elementos, o peso da imagem e o estado precário para o tráfego no trecho entre Serra das Dores e a “virada da serra”, fizeram com que a tradicional e histórica travessia deixasse de ser realizada nos últimos anos, somados à pandemia do novo coronavírus em 2020.

Contudo, me parece que as soluções vêm ocorrendo. Após diálogo e visitas entre comunidade, Secretaria de Cultura, Turismo e Esporte de Miradouro e restauradores da FAOP (Fundação de Artes de Ouro Preto), provavelmente a imagem de Nossa Senhora das Dores voltará a sua estrutura original. O diálogo também parece seguir em bom curso para a desobstrução do trecho miradourense no qual ocorre a travessia para a “Troca de Santos”.

Independentemente de se chegar a bom termo, o que seria muito positivo para as comunidades do território da Serra do Brigadeiro, é que possamos conhecer e reconhecer esta celebração e expressão de fé na Nossa Senhora das Dores e na travessia da “Troca de Santos” como sendo absolutamente relevantes histórica e culturalmente na Serra do Brigadeiro.

janeiro 10, 2022
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