Por Nicélio Barros
Faço parte de um Grupo de Pesquisas formado pelos alunos mestrandos e doutorandos do PPGHE-USP (Programa de Pós-Graduação em História Econômica da Universidade de São Paulo) que vem abordando temas pertinentes à História Ambiental, entre elas as memórias e depoimentos de ex-gerentes e autoridades de UCs (Unidades de Conservação, Parques Nacionais, Estaduais e Municipais.
Gostaria de reproduzir aqui, a conversa com o ex-Gerente do PESB, José Roberto Mendes de Oliveira. O Portal Serra do Brigadeiro já o fez, brilhantemente, em matéria publicada em 21 de novembro de 2016. Há cinco anos. Ouvir José Roberto Mendes de Oliveira sobre o tema, no entanto, nunca será demais, me parece. Penso que cada questão que ele coloca, serve como referência para quaisquer abordagens a respeito do PESB e de seu entorno. Segue abaixo, a íntegra.
1. Como se dá a criação oficial do PESB e quais os principais desafios você encontrou ao assumir a Gerência do Parque?
O PESB foi criado através do decreto nº 38.319 de 27 de setembro de 1996, sendo este localizado nos municípios de: Araponga, Divino, Ervália, Fervedouro, Miradouro, Muriaé, Pedra Bonita e Sericita. No Bioma – Mata Atlântica com campos de Altitude e com uma área de Área: 14.984 há, atuando como gerente no período de 2003 a 2018.
Desafios:
• Acompanhar as obras estruturais e implantação;
• Constituição e instalação do conselho consultivo;
• Conhecer as comunidades, moradores e confrontantes da unidade de conservação;
• Regularização fundiária da área;
• Retirar, deslocar, famílias moradoras dentro da área;
• Definir os limites físico/geográficos por meio de um diálogo com os moradores para evitar atividades que contrariasse a legislação, tipo: queimadas, caça ilegal, retiradas de plantas nativas e ornamentais
2. Durante os anos que você permaneceu na Gerência, como você avalia a relação do PESB com os territórios do entorno e com os Municípios?
Avalio como uma relação afetiva e participativa nas discussões das políticas públicas, sociais e ambientais, com envolvimento e participação no Território Rural da Serra do Brigadeiro, com os segmentos do poder público Municipal, Estadual e Federal os Sindicatos e ONGs.
O diálogo estabelecido com as famílias do entrono foi sempre em constância e coletiva na busca de uma proposta de desenvolvimento local, visando o potencial da região no âmbito do turismo ecológico e a sua rica biodiversidade.
A relação com os municípios era voltada principalmente para o desenvolvimento econômico, na contração e priorização de funcionários locais, por meio de convênios ou contratos.
3. Deus largado é explícito e reconhecido. No entanto, nas suas palavras, qual o legado você deixou, como Gerente, servidor do IEF e com as Comunidades do entorno?
Como legado, primeiramente, orgulho-me em dizer que gerenciei duas unidades de conservação no norte de Minas, anterior a esta, e pude contribuir muito PESB, pois já carregava uma bagagem e experiências que a cada dia se lapidava, se moldava, se errava e corrigia, ou seja, se consolidava uma história. Ainda, como legado deixei alguns projetos implantados:
1) Projetos sócio educacionais:
• Semana pedagógica
• Cavalgada Ecológica da Serra do Brigadeiro
2) Plano gerencial:
• Implantação do plano de manejo e conselho consultivo
• Sistematização das pesquisas científicas
• Estabelecimento de uma equipe multidisciplinar
• Administração setorial
Penso que, ao invés de concluir, o que podemos, e devemos, é debater as respostas e os pensamentos de José Roberto Mendes de Oliveira em textos, eventos, seminários, encontros, ou algo afim. Lutas, acertos, desafios, legados, jamais poderão ser ignorados pelo presente.
Independentemente do cenário e das mudanças. Esse é o propósito de todos nós, creio.
Obrigado, caro amigo Zé Roberto!