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Portal entrevista gerente do Parque Estadual Serra do Brigadeiro, José Roberto Mendes

O Parque Estadual Serra do Brigadeiro completa 20 anos de muitas lutas e conquistas para a preservação de 14.984 hectares de fauna e flora. Localizada na região da Zona da Mata mineira, a Unidade de Conservação (UC) fica no extremo norte da Serra da Mantiqueira, nos municípios de Araponga, Fervedouro, Miradouro, Ervália, Sericita, Pedra Bonita, Muriaé e Divino. Os desafios para defender esta área, onde predomina a Mata Atlântica, montanhas, vales, chapadas, encostas além de diversos cursos d’água que integram as bacias dos rios Paraíba do Sul e Doce, são grandes, principalmente, pela falta de conscientização da população sobre sua importância e o avanço das mineradoras na região.

Para o trabalho de conservação ambiental, a gestão do Parque organiza projetos para o diálogo entre a Unidade e as comunidades, incentiva o desenvolvimento de pesquisas e organiza oportunidades de ecoturismo dentro da Unidade, com o intuito de alavancar pequenos empreendedores locais. Para falar um pouco sobre esta história, o Portal Serra do Brigadeiro conversou com o gerente da UC há 14 anos, José Roberto Mendes de Oliveira.

  • PORTAL – O Parque Estadual Serra do Brigadeiro completa 20 anos neste ano. Como você avalia este período? O que avançou?

José Roberto Mendes – O Parque foi criado em 1996, mas antes disso, no final dos anos 80, já haviam discussões para a criação de uma Unidade de Conservação. Todas as UC passam a existir através de um decreto, a Serra do Brigadeiro não foi diferente, mas além disso, houve grande participação da comunidade. A ideia inicial de sua formação utilizou o Código Florestal que estabelece a cota 1.000, definindo que acima desta altitude seria Área de Proteção. Desta forma, a primeira proposta de definição da área do parque seria de 32 mil hectares, mas com este perímetro e nesta localização, atingiria muitos agricultores, por isso que veio a redefinição, muito importante por não precisar desapropriar muita gente.

Através do diálogo com a comunidade, igreja, sindicato e universidade, a UC foi redesenhada e estabeleceu-se a categoria Parque, transformando a área em 14 mil hectares. Com isso, já começou a ser pensado no Plano de Manejo, com zoneamento e o legado de transformar aqui em uma área de turismo ecológico. Neste momento iniciou o processo de desapropriação, que é a regularização fluviária.

O primeiro gerente que trabalhou por 10 anos no processo de limite do Parque, com participação da comunidade, adquiriu em 1999 os primeiros hectares. Já em 2003, iniciou com o projeto do Programa de Proteção da Mata Atlântica (PROMATA), e através de uma parceria entre o governo de Minas e parceiros da Alemanha foi possível a implantação da infraestrutura. Em 2005 tivemos a inauguração das duas portarias, o Centro de Visitantes, Centro Administrativo, Alojamento para os Pesquisadores, Casas Institucionais, reforma da sede da antiga Fazenda, para atender os pesquisadores e o uso público. Em 2010 houve melhora no acesso pela Portaria de Araponga.

O que posso avaliar nestes 14 anos que estou a frente desta Unidade é o desenvolvimento da questão do turismo. A comunidade está abraçando com serviços de hotelaria, hospedagens, área de camping. Uma vez que o parque ainda não oferece.

  • PORTAL – Quais as perspectivas para o desenvolvimento na parte estrutural?

JRM – A partir de 2005 foi possível estabelecer o Plano de Manejo, com os indicadores de onde poderia melhorar, tanto para as pesquisas científicas, quanto na oferta de turismo, uma vez que o formato desta Unidade e os acesso para a oferta turística englobam 13 atrativos. Neste processo de estabelecer a infraestrutura, a regularização fluviária está caminhando.

Hoje podemos afirmar que temos 50% já regularizado, mas devido as parcelas de terras pequenas, restam 7 mil hectares que pertencem aos pequenos agricultores. Outro projeto é o restauro da Fazenda do Brigadeiro, casarão centenário que fica mais ao norte do Parque. O intuito é montar uma estrutura para que possa atender o turismo, com espaço de portaria, lanchonete, área de camping e também uma proposta de restaurante na sede do Parque.

  • PORTAL – Como está esta situação de captação de recursos?

JRM – Já existe um recurso do Estado, que hoje podemos citar para o Brigadeiro, que é o de compensação ambiental já em caixa para estas melhorias e a do projeto em parceria com a Secretaria do Estado de Turismo que será rateado entre outras 10 Unidades de Conservação para o desenvolvimento turístico, com a proposta de melhorias na infraestrutura, sinalização das trilhas e uniforme para os condutores.

  • PORTAL – Vejo que o Parque tem aberto oportunidades para turistas e população local visitarem as trilhas da Unidade. É uma intenção dar continuidade a esta ideia?

JRM – O ordenamento da visitação do Parque, devido ao seu formato, está sendo desenvolvido com diversas ações. Algumas delas são os seminários direcionados para os pesquisadores que desenvolvem atividades da UC, além do projeto pedagógico junto a comunidade local e atendimento as Universidades. Com esta última ação já conseguimos trabalhar 50% dos oito municípios do entorno, trazendo as escolas municipais para conhecerem o trabalho desenvolvido.

O Parque não cobra portaria para visitação. As visitas são feitas por agendamento por email ou telefone, para ter o controle. O parque é cortado por uma rodovia que passa pelos municípios de Fervedouro e Araponga, sendo feito um controle, desde 2005/06, e a partir deste período notamos que a prospecção do número de visitantes é sempre crescente.

Para atender este crescimento de forma ordenada, sanando uma reivindicação dos turistas que ficam nas pousadas do entorno, o Parque passou a definir um calendário, com horário definido de passeio para que todos possam conhecer. O ordenamento tem dado certo. As pessoas têm nos procurado, por isso, temos como organizar, pois antes não tínhamos nenhum controle, vinham, visitavam e não sabíamos quantos. Apesar disso, sabemos que este levantamento ainda é muito pouco, comparado a real situação de visitações nos diversos pontos que temos.

A intenção é continuar estes calendários em 2017, e ampliar a medidas que formos conquistando outros atrativos, que já existe demanda. O Parque é dividido em oito municípios, mas a cidade com maior envolvimento com o Parque e ordenamento da visitação é Araponga. Esta relação justifica-se pela sua localização, pois a sede do Parque está dentro da área do município e a maior parte da Unidade está dentro deste perímetro. Além disso, temos a criação dos Circuitos Serra de Minas e Serra do Brigadeiro, que abrangem Araponga. Isso não quer dizer que os outros municípios não tenham participação melhor também. Por exemplo, pretendemos atender as reivindicações do município de Pedra Bonita, desenvolvendo expedições e com calendários nos finais de semana e feriado.

Todas as atividades realizadas dentro da Unidade de Conservação, sempre que possível, é com acompanhamento de guarda parque. Temos outras atividades que são a bike, feito através de agendamento, estabelece a rota, uma vez que o plano de Manejo permite estas rotas. Temos também muitas trilhas de servidão, que a comunidade utiliza para se comunicar. Outro projeto é a cavalgada no entorno da Serra do Brigadeiro, que foi fundamental para a aproximação da comunidade com a UC. Esta interação do animal, natureza e homem é muito bem feita pelo projeto Cavalgada Aldeia da Vida, com trabalho de educação ambiental, social e cultural.

  • PORTAL – A sede da Unidade de Conservação delimita visitações em trilhas mais próximas, mas sabemos que existem muitas visitações em picos mais distantes, como Pico do Boné, Pico do Itajurú? São disponibilizados guardas parque para a realização destas trilhas? É possível acessá-las sem um guia?

JRM – Na região Central do Parque, na sede, temos outros atrativos que é o Circuito dos Primatas e a Pedra do Pato com todo o controle, porque tem as portarias com guia de guarda parque. Para as outras trilhas, se for agendada, nós disponibilizamos o guarda parque. Mas existem algumas trilhas que nós não temos o controle, onde acontece o turismo de forma desordenada. As vezes somos surpreendidos com um número excessivo de turistas que contrariam a norma e capacidade de carga. Estamos falando de um bioma de Mata Atlântica, com campos de altitude, variando de 800 a 1.996 m, costuma de uma hora para outra o tempo mudar, relatos de pessoas que passaram dificuldades devido a mudança abrupta de clima e chegada de chuvas.

Temos a pretensão de termos trilhas com sinalização mais clara, para um futuro mais próximo, além do restauro da Fazenda do Brigadeiro, com suporte logístico, banheiro, sanitário, como dito anteriormente. Esperamos com isso termos um ganho maior. É um anseio das comunidades do entorno e dos empreendedores que já estão estabelecidos, como no Boné, Bom Jesus do Madeira, Araponga, Itajurú, que têm apostado no crescimento do turismo.

  • PORTAL – Como é a relação do Parque com as cidades do entorno?

JRM – Existe um Conselho Consultivo formado por quem lutou para a formação da Unidade de Conservação que se reúne em fóruns de discussão. Nestes eventos o conselho do parque é muito ativo e participativo. Outra coisa que destacamos são os agricultores de preservação e conservação. Entre os funcionários do Parque, 90% são moradores locais e filhos de agricultores ou agricultores, que desenvolvem além das atividades o cultivo na terra. Abrir oportunidades para residentes também foi uma forma de tornar mais íntima a relação deles com o lugar. Antes víamos funcionários que não eram da região para tomar conta, gerenciar e tínhamos que treinar e adequá-los as funções, hoje, com o novo corpo de funcionários isso não é necessário por estarem mais familiarizados. Uma resposta para esta aproximação da comunidade com o Parque é o gráfico de incêndios florestais, com quedas significativas.

  • PORTAL – Vemos que um dos grandes problemas das Unidades de Conservação são as queimadas criminosas. Além disso, também existem outros problemas por falta de consciência da população. Como são tratados estes problemas?

JRM – Como dito na questão anterior, a aproximação da comunidade com o Parque tem refletido na redução do número de incêndios na Unidade. Antes eram grandes incêndios, ocasionados dentro da Unidade ou de fora para a Unidade. Hoje o que a gente percebe é a maior preocupação das pessoas, que se mobilizam para ajudar em situações de incêndio e avisam o Parque sobre focos. Além disso, temos o curso de brigadistas, com treinamento de, no mínimo, uma brigada por ano, teve ano de contabilizarmos duas, três, quatro brigadas, com o apoio do Corpo de Bombeiros. Mais que o treinamento de combate, a ação orienta sobre primeiros socorros e resgate, capacitando funcionários, moradores para situações de emergência.

  • PORTAL – Sabemos que existe prospecção de mineradoras na região para a exploração nas proximidades. Como trabalham o assunto?

JRM – A gestão do Parque Serra do Brigadeiro tem procurado entender e envolver na questão que mais preocupa os moradores que é a mineração. Tem participado junto com eles ou através do Conselho Consultivo, Codema, de Movimentos e Caminhadas. Fazemos este papel e percebemos a aceitação da nossa participação na defesa pela região. Qual o objetivo de criação desta Unidade de Conservação? É proteger, conciliar estudo científico, ecoturismo, desenvolver comunidade do entorno nas questões de agroecologia, sustentabilidade. Estamos aqui protegendo várias nascentes, sendo que todas são importantes, como as bacias Paraíba do Sul e Rio Doce. Destaco também a nascente do rio Casca que nasce no Sul do Parque. No Norte do Parque, que teve uma parcela maior preservada, temos a nascente do Carangolinha que faz parte do Rio Carangola, do Manhuaçu e do Matipó. Temos muito afluentes importantes. O mais importante é pensar que você vai mexer no solo e no subsolo, que é fundamental, tudo faz parte do contesto.

Precisamos preservar a vegetação que segura as águas de chuva, o solo que tem esta função de armazenamento e filtragem, se é tirado isso, lógico que vai causar um impacto. A Unidade é grande um legado, e já vemos alguns lugares com escassez de água, devido o solo raso. Montanhas têm funções importantes, deixam sua contribuição de água para abastecer os lenções freáticos.

Temos esta preocupação quanto a exploração da bauxita e granito. Mas, como o Parque é unidade de conservação e preservação integral, a legislação restringe este tipo de uso, e, pensando nisso que o plano de manejo, até que conclua os estudos para estabelecer o raio de amortecimento, é muito importante. A Unidade tem 15 mil hectares, se for juntar com a Área de Proteção – Zona de Amortecimento, dará em torno de 150 mil hectares. Aí sim temos um volume que dá para o homem pensar, antes de chegar aqui.

novembro 21, 2016
Parque , Single Post
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