Edimar Miranda, de 51 anos, filho de Norival e Maria da Glória, pai de Gisele e Gustavo, produz seus cafés especiais acima de 1.300 metros de altitude. As lavouras de Catuaí Vermelho – 44 Vermelho, abastecem cafeterias de São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro e Viçosa, além de outros países da Europa e América Latina: Romênia, Eslováquia e Áustria e Uruguai. “Só tenho que agradecer meu amigo Duda que abriu as portas para levar meu café para outros países e os três que considero minhas almas gêmeas: Daiana, do Rio Grande do Sul, Natália e Paulo Lemos, de São Paulo, com quem divido o projeto ‘Mata e Morro’. O Senar – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, foi quem quebrou as paredes para mim e fez a ponte com compradores do meu café”.
O encanto visual ao chegar em uma de suas lavouras, ‘Morada do Sol’, aos pés da Pedra do Rochedo, na Comunidade Rural Estouros, em Araponga, Minas Gerais, na Serra do Brigadeiro, se equipara ao encantamento em ouvir Edimar falando do seu amor pelo café. A visão de um homem do campo que cresceu com referências históricas de explorações nocivas ao meio ambiente, mas que caminhou passos largos ao contrário de toda esta realidade, rumo à vontade de fazer um café cada vez mais orgânico e conectado com a Terra.
“Meu pai viveu no período que as árvores das matas da Serra do Brigadeiro eram cortadas para virar carvão. Ele era de uma família de 12 irmãos e como meu avô morreu muito novo, um dos irmãos mais velhos, com 17 anos, precisou tomar a frente da família junto com minha avó. Eles trabalhavam com cultivo de horta, cebola, alho, fumo e queijo que eram vendidos para a frente de trabalho no Brigadeiro e começaram a plantar café por necessidade de pagar dívidas. Dizem que a primeira colheita deles, na década de 40, foi a maior da cidade”, conta emocionado. Edimar já nasceu quando o ciclo do carvão já estava no fim e o café ganhou maior destaque na vida da família.
O respeito pelo que faz é notável para quem caminha por sua lavoura. O período de nova colheita está chegando e os grãos ainda verdes, mas já bem formados, são simétricos, saudáveis, em pés de café vistosos, sem um pingo de agrotóxico. “Respeite a natureza, não force além da conta. Isso é induzir a planta a ser um robô. Aqui o que procuro fazer é respeitar o seu tempo e passar energia pra ela. Acredito muito nessa coisa de energia. As melhores ideias, tive aqui no meio do café, trabalhando sozinho”, conta o produtor rural.
As ideias que tanto Edimar comenta o torna visionário para uns e sonhador para outros. O projeto educacional ‘Sementes Café do Amanhã’ – ele conta com mais detalhes na entrevista em vídeo; a plantação em sistema de Agrofloresta com manejo Sintrópico do projeto ‘Mata e Morro’, em seu Sítio da Matinha; o projeto de montar um laboratório com sistema de torrefação e estudos sobre o café dentro de sua propriedade; a vontade de conectar consumidor final com o produtor rural; são ideias que o colocam a frente do senso comum. Mas o segredo dele para fazer tudo isso dar certo é trabalhar de forma coletiva e buscar referências e conhecimentos de quem já executa os novos modos de plantio. “Fiz curso sobre Manejo Sintrópico, em Brasília. A lavoura plantada no final de dezembro, pelo projeto ‘Mata e Morro’, vai crescer junto com frutíferas e outras espécies, todas cultivadas de forma totalmente orgânica”, explica.
A lavoura ‘Morada do Sol’, com grãos premiados em 2020, já produz há mais de 20 anos e há quatro foi comprada por Edimar do seu irmão. Ela é mantida de maneira sustentável, mas com uso de fertilizantes minerais, como o esterco de curral, já no novo espaço, conhecido como Sítio da Matinha, a proposta é reduzir o mineral e cultivar de forma 100% orgânica. “Lá era só pasto, foi braquiária tirada na inchada, estourei um monte de bolha nas mãos, roçamos em uma baixada e todo o material foi puxado para cobrir o solo na montanha”. Na nova lavoura foram plantados 300 pés do café Arara e outros 1.000 do Catuaí Vermelho.
Ao caminhar pela plantação, Edimar expressa sua preocupação em manter seus pés sempre produtivos para conseguir atender seus compradores. “Uso o sistema de poda e plantio de novas lavouras”. O cafeicultor explica que aos pés da Pedra do Rochedo mantém duas lavouras, uma com poda no sistema de recepa – quando corta a base do pé de café; e a outra com cortes conhecidos como esqueletamento – quando são feitas podas no topo e laterais da planta. “Na recepa a lavoura demora dois anos para voltar a produzir, já o esqueletamento o intervalo é de um ano, mas só é possível de ser feita quando a planta está com uma estrutura cheia de ramo. Outra técnica é deixar os espaços entre os pés, porque uma lavoura muito adensada, tanto na linha como na rua, não cresce com qualidade”, detalha. Ao retornar para seu Sítio Cabeceira do Estouros também é possível notar outra técnica muito usada para seleção dos grãos especiais que é o terreiro suspenso.
Em 2020, Edimar ficou em 1° lugar na categoria ‘Matas de Minas – Cereja Descascado’, na premiação 4º Cupping de Cafés Especiais do Programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) Senar Minas, transmitida ao vivo na programação da Semana Internacional do Café (SIC). Seu café especial de montanha atende cafeterias e torrefadoras pelo Brasil: Aha Cafés (Brasília), Civitá Cafés Especiais (Brasília), Futuro Refeitório (São Paulo), Arturito – Restaurante da Paola Carosella, Lano-Alto (São Paulo), Café dos Reis (Viçosa) e Rio de Janeiro.
O café do cafeicultor também participa do Projeto NOMAD pela Nescafé, que é uma iniciativa focada em cafés especiais que alia curadoria de grãos de alta qualidade, conteúdo imersivo, tecnologia e rastreabilidade. Ele está entre os 12 produtores de todo Brasil que tiveram seus produtos distribuídos para Clube Seleto de apenas 500 Assinantes.
Mais que café, um apaixonado pela natureza
Parte de sua propriedade guarda tesouros em forma de água! Chegaram a chamar ele de doido ao manter uma parte de suas terras com árvore, mas ele mostra que nada disso foi sem pensar. Ao mantê-la preservada, Edimar conseguiu recuperar uma nascente d’água. Agora, seu sonho é comprar mais áreas de mata para criar uma Reserva de Preservação Permanente (RPPN) e receber os apaixonados pelo café especial de montanha para um tour especial, com direito a aventura em cima de uma tobata.
O mesmo veículo usado para carregar o café até seu terreiro em período de colheita será transformado em transporte para os aventureiros que não dispensam uma sacudida e arrancões no percurso até sua lavoura. Lá no alto, o passeio dará direito a explicações melindrosas sobre todos os desafios do plantio em altitude e de forma sustentável. Não existe uma gota de agrotóxico em toda a forragem em sua lavoura, então, como ele mesmo demonstra, pode deitar e sentar no chão à vontade.
Depois de sentir o gostinho do que é produzir em altitude, o visitante também poderá conhecer cachoeiras locais. A primeira leva o nome de seu projeto ‘meninas dos olhos’, que é a Cachoeira Sementes, com suas quedas e características únicas em toda a Serra do Brigadeiro. Logo abaixo, fica a Cachoeira do Rochedo, com poços bons para nadar. Durante as trilhas curtas para os atrativos o produtor dá uma aula de biologia. “Tá com dor no estômago? Acho uma folhinhas que é bão pra isso”, brinca Edimar.
Localização: Comunidade Rural do Estouros, em Araponga, Matas de Minas – MG
Instagram: @edimarmiranda_
WhatsApp: +55 (31) 9 9626-8246